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a alma da flor

a alma da flor

Escrevinhando sobre ir, estar e voltar...

03.08.15 | DyDa/Flordeliz

 

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Carrego na mala e nas roupas coladas ao corpo, a poeira, o calor e a carga de horas que ficaram por dormir e, as outras, gastas, em longos percursos.

Apodera-se velozmente a vontade de regressar ao "refugio" e, parar. Pensar em desfolhar memórias calmamente, como se fossem páginas de uma revista que pegamos e percorremos ao acaso, avivando o que se viu faz pouco tempo, bem de perto, mas que, já ficou para trás.

 

Lembro os ocres das fachadas, na terra que nos acolheu com labaredas vindas do deserto. Os cheiros dos condimentos e miscelâneas de frutas e alimentos adocicados. As visitas guiadas e outras gentes, outros hábitos, outros costumes, outras culturas, num misto de sensações. Muitas estórias contadas, outras tantas imaginadas e algumas também vividas.

 

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Recordo de contarem que o Paxá tinha muitas mulheres à sua escolha, mas que este sempre deixava o coração suspirar pela sua amada, a predilecta. Vi aposentos exímios. As condições. As contradições. As janelas incertas e as cores que por dentro enfeitavam o espaço e faziam esquecer o desconforto, a falta de privacidade e ainda a necessidade de partilhar o pouco do nada que por ali parece ter existido.

Vimos muitos povoados reservados. Controlados e murados. Olhando hoje, nada parece fazer sentido, já que ali tudo parece despido. A pobreza reina e o calor impera, enquanto há olhos à espreita.

Passamos pelo deserto das pedras, com montes e montes delas. E montanhas e montes de areia no deserto. Oásis com tamareiras. Plantações de ervas aromáticas. Culturas de subsistência. Cabras equilibrista na Argânia e praia de gente colorida vestida dos pés à cabeça. E ainda, os imensos e omnipresentes caçadores de "propinas". Visitamos jardins com varandins e grandes vasos amarelos, azuis e vermelhos, muitas canas de bambu e espelhos de água. 

De passagem, ao longo da estrada, vimos cemitérios sem lápides e até um funeral. Alguns homens vestidos de branco. E mulheres? Nenhuma. Não sei o porquê. Não perguntei. Apenas estranhei.

 

Escurece em viagem quase de repente, mas a gente, essa não desaparece. Há muita na rua. Famílias, barulho, há festa, comida, vai todo o mundo para a beira da estrada. Não é uma esplanada. Não é uma praça. É um simples jardim, traz-se um tapete e faz-se ali mesmo o serão, como se o tempo não tivesse pressa. Dizem mesmo que, não há, de facto pressa. Tanto podem ser três, como quatro da manhã.

Só nós ainda caminhamos. Levamos suor na testa, nas costas, nas pernas à hora de recolher. Hora para nós, também de comer, de ficarmos sentados, à volta da mesa, loucos já desesperados por uma refeição, uma água, um pedaço de pão.

Conversa-se. Ri-se. Porque não? E lá chega afinal o repasto.

 

O couscous e o tagine muito bem apresentado. Mas a cada dia que passa, vem com um problema agravado, ser igual ao do meio dia, parecido com o do dia anterior e cada vez mais condimentado. Aos poucos vai-se ficando agoniado, o estômago começou a reclamar e o intestino não se lhe fez rogado.

Deixamos a fruta, a ementa não leva arroz, o calor parece ser redobrado e a festa para nós vai começar, vai ser um corrupio, um dormir sobressaltado, correr para a sanita em passo apressado.

Qual é a solução? Acabou, não há mais refeição. Comer? Só mesmo se for pão. E ficar aliviado, a viagem está perto do fim.

WP_20150724_003.jpgNão antes sem, falar do pequeno almoço. Por lá, tivemos de tudo um pouco. Sim, comida à descrição, para nós e para a passarada, que sem grande sobressalto debica daqui e dali, mesmo que a sala seja em espaço fechado, fresco, climatizado. Ninguém os sacode. Ninguém os afasta. Devem ser protegidos ou ter amigos por (A)lá. A mim? Ninguém me convenceu: do prato onde eu como, não debica mais ninguém. O cenário poderia ser de chalaça, qui ça até, ter graça, fosse a brincadeira uma vez e sem direito a bis. Encontrar pela manhã a passarada a sobrevoar animada e servir-se antes dos demais? É repugnante. É falta de higiene, bicos enfiados no pão, na compota, na fruta e, tudo e no maior descaramento, porque nada era ou alguma vez foi acondicionado ou tapado.

 

Mas afinal, gostaste, ou mais valia ter ficado em casa?

Óbvio que não. Eu gostei, pois então. Depois deste tipo de viagem só podemos enriquecer em conhecimento e transmitir felicidade.

Uma vez mais registei: não damos valor ao que temos, porque o temos como garantido. Quando temos pouco, não precisamos de muito mais. Já quando temos muito, queremos sempre mais do que alguma vez necessitaremos.

 

Fim de viagem.

Próxima?

Obrigada, por agora, fico-me mesmo por aqui.

Em casa, afinal, está-se muito bem.

 

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