Uma culpa chamada "sofá"! Parte III
Capítulo III
As manhãs eram feitas de rotinas. Levantar a correr. Duche rápido. Preparar o pequeno-almoço e a lancheira da Mafalda. Os minutos eram cronometrados para que todos conseguissem chegar a tempo e horas.
Sempre ajudou Marta nas tarefas diárias, o mesmo acontecendo em relação a Mafalda. Eram gestos tão repetidos que os faziam sem pensar.
Mas hoje estava distante e Marta alertou-o para que se despachasse ou chegariam atrasados
Sentia-se irritado. Tinha dormido mal e a cabeça latejava, deixando-o mais lento que o habitual.
Enquanto desciam para a garagem, Marta apercebeu-se que ele não estaria bem, prontificando-se de imediato a ser ela a conduzir, mas Manuel rejeitou e sentou-se ao volante, tomando o caminho da escola da filha.
Mafalda era uma criança alegre e tagarela que adorava a escola, os amigos. À saída despediu-se com um beijo e um aceno de mão e saiu a correr batendo fortemente com a porta, dirigindo-se imediatamente para a sala. Com o seu habitual toque, a campainha indicava o inicio de mais um dia de aulas.
Marta e Manuel trabalhavam na mesma empresa. Ele trabalhava no departamento de Investigação e Desenvolvimento, enquanto que ela, por seu lado, desempenhava a função de Comercial.
Enquanto conduzia, ia ouvindo a voz da esposa a ultimar os preparativos da viagem a França e Inglaterra. Estava feliz pois, finalmente, a colecção estava pronta. Mantinha uma carteira de clientes invejável, mas não descurava a atenção que eles lhe mereciam.
Na empresa era respeitada e compensada financeiramente pelo trabalho que desempenhava. Era uma mulher simpática, afável e dinâmica, dominando em simultâneo várias línguas. Desde muito jovem se habituou a viajar sozinha. Esteve na Grécia, Brasil, Turquia, Marrocos e mais recentemente na Índia. Os seus clientes eram maioritariamente franceses e ingleses. Mas para fazer face aos baixos preços praticados pela concorrência, teve necessidade de encontrar países onde a mão-de-obra fosse mais barata, colocando e controlando aí as encomendas. Era realmente muito profissional.
Manuel admirava o seu dinamismo e o empenho, conseguindo mesmo assim manter um aspecto jovial e alegre, aparentando um ar bem mais jovem que os seus 37 anos.
Todos os dias passavam pelo bar da empresa para um curto café antes de darem início a mais um dia de trabalho. Despediram-se, como sempre, com um beijo e cada um rodopiou em direcção ao seu gabinete.
Nessa altura chocou com uma pessoa que vinha em sentido contrário. Atrapalhado apressou-se a pedir desculpas. Era Joana que tinha ficado corada e olhava para ele com ar inquieto.
Encabulado, disse-lhe bom dia e murmurou que precisavam falar. Ela apenas anuiu com a cabeça fugazmente e ambos seguiram para as suas tarefas.
(continua...)