Talvez... não seja tarde para voar...talvez!
Já há alguns anos que me encontro longe de jogos absurdos e surreais onde a manipulação de vontades e sentimentos eram misturados como um qualquer dado de poker .
Tocou o telefone e como sempre atendi. Alguém falava com voz arrastada e abafada. Foi com surpresa que tentei entender o que me diziam:
- Dona (…) Escute!
Não se identificou mas a voz era familiar e com esforço tentei decifrar os sons que ouvia.
- Mas o que se passa senhor (…)?
Comecei a ficar preocupada. Do outro lado alguém chorava incontornavelmente e eu não entendia o sentido daquele telefonema estranho.
Perguntei de novo:
- Afinal que se passa? Ouve-se mal e eu não estou a entender.
De novo uma voz de homem sussurrou que a minha amiga estava doente e precisava de ajuda. Fiquei atarantada, sem saber o que fazer. Tentei ganhar tempo e recuperar a calma.
Por fim respondi:
- Logo que me seja possível vou ver o que se passa! Passarei por aí!
O coração batia acelerado, o raciocínio teimava em bloquear o pensamento lógico do que deveria fazer.
O meu trabalho passou para segundo plano, os meus afazeres esqueci-os e parti ao encontro de quem se encontrava em tamanho pranto.
Toquei na campainha. E a porta por fim abriu-se. Do outro lado de olhos e cara inchada pelo choro, encontrei a minha amiga de olhar triste e perdido pela vida que ela própria criou.
Mentiras, jogos, incertezas, mágoas, acusações, dependência e falta de transparência. Um descontrolo que tolda uma vida com a falta de bom senso, respeito pessoal e dignidade. Onde o desequilíbrio emocional vai fragilizando a saúde psíquica desta mulher transformando-a num Ser pequeno, indefeso e desprotegido.
Sei que sonhaste:
Com o Sol e a Lua,
Amor e felicidade,
Castelos,
Luzes e lantejoulas ,...
Com o teu cavaleiro.
- Recusas-te a acordar e ver o que te rodeia:
Que há dias de chuva em que o sol não brilha. Há dias em que as nuvens escondem a lua. Os castelos, por vezes, são de areia e desfazem-se com o vento. É nas histórias de encantar que os cavaleiros beijam princesas. E as lantejoulas são vidros e metais pintados que acabam por perder a cor com o tempo.
Foste atrás de um sonho em que acreditaste. Mas descuraste a realidade que te rodeia, transformando-te numa figura de decoração manipulada que vai passando pela vida sem a ver e sem se aperceber.
Acorda!...
- Toma nas tuas mãos as rédeas da vida que deixaste à deriva!
- Fecha os ouvidos às palavras gastas e vazias! Não te deixes sucumbir e manipular.
- Chora porque erraste um dia.
- Mas não chores mais porque deixaste alguém decidir o teu destino, ou porque depositaste a tua força de vontade e o teu querer noutras mãos que não as tuas.
- Acredita em ti! Transforma a tua debilidade em força.
Amiga que pena sinto que tenhas enchido a tua vida de “nada” e tenhas transformado a tua família em “náufragos” que poderiam ter sido “portos de abrigo”.
Há pessoas que não conseguem ser nem deixar alguém ser feliz. A felicidade incomoda e afecta certas pessoas.
- Dois dias são rotina dolorosa e monótona demais para ser partilhada e saboreada.
É tão doloroso redescobrir que afinal apenas, (e só) eu estive afastada… Pois tudo continua sujo e corrupto, tal como sempre foi.
À minha memória regressaram os fantasmas feios e disformes de antigamente.
- Tenho pena! Tanta pena! Pena que o teu presente e o teu futuro continuem entregues às mesmas mãos, que te anulam e te fazem viver uma mentira.
- Transformaste-te em pássaro de gaiola a quem vão depositando alimento para servir de troféu num qualquer concurso ou exposição.
Procura a luz do sol e liberta esse espírito. Sacode as asas e voa! Voa para longe. Voa até não sentires mais as asas. Mas voa definitivamente para longe das amarras e dos grilhões que te prendem a esse “nada” que se transformou na tua vida.
- Afinal, há tempo! Não o desperdices!
Que o Sol seja a Luz que ilumina o teu caminho
Que os pássaros te indiquem o caminho da liberdade
O mar te ensine a canção do amor
As flores a ternura dos gestos verdadeiros