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a alma da flor

a alma da flor

Entre o maduro e o estragado

20.03.14 | DyDa/Flordeliz

Os dias estão solarengos. Há vida, renovação e nota-se nos rostos de quem nos cruzamos as cores da boa disposição.

No entanto, esta nem sempre tem de andar ligada a um badalo sineiro ininterrupto como se de um spot publicitário se tratasse.

 

 

Hoje passei por uma frutaria, da qual não sou cliente, mas por estar na minha rota, deu jeito entrar.

O espaço era amplo e estariam umas seis ou sete pessoas a escolher e encher os sacos com fruta ou legumes, para de seguida se aproximarem da caixa, pesar e pagar.

 

 

Posteriormente, entrou uma cliente que, pelo à vontade demonstrado, fará parte dos conhecimentos da funcionária da loja, e logo foi debitando conversa. Conversa essa, alta e em bons decibéis.

Cliente: Hoje as maçãs não são madurinhas como eu gosto. Gosto de maças madurinhas.

Funcionária: Tem ananás muito madurinho.

Cliente: Gosto da fruta toda madurinha.

Funcionária: O ananás hoje é barato e madurinho, enquanto fazia a conta de outro cliente: ora um molho de espinafres....

Cliente: Não tem lá dentro maçãs mais amarelinhas? O ananás é mesmo madurinho?

Funcionária: Olhe para o que esta senhora vai levar, está bem maduro! Veja pela cor amarelinha. – ora...novamente, um molho de espinafres...

Cliente: Esse está. Já não tem outro igual. Esse, era o mais madurinho.

Funcionária: Ora bem vamos lá fazer a conta desta senhora. Então, é um molho de espinafres... Olhe, se quiser dispenso-lhe um que tirei para mim hoje para levar para casa - começando a remexer nuns sacos atrás do balcão à procura do ananás. Vamos lá fazer a conta: um, dois, três molhos de espinafres...

Cliente: Eu levava morangos, mas se calhar levo amanhã, afinal passo cá, levo fresquinhos.

Enquanto isto, entraram outros clientes, a mesma conta continuava por fazer, e fomos assistindo à grande trapalhada da funcionária de não conseguir concentrar-se nas contas sem tagarelar e sem que a “outra” desistisse da conversa “madurinha”.

Sinceramente, já me ferviam os dedos dos pés do nervoso miúdo. Estava a ficar desesperada!

Um outro cliente, que estava na fila, acabou por demonstrar impaciência sobre a situação e sai-lhe este comentário, tipo brincalhão, mas nem por isso menos assertivo.

- Você hoje não está a dar conta do recado. Faça a conta que me quero ir embora. Se fosse seu patrão já a tinha despedido!

E foi mesmo nessa hora que entrou o patrão da loja. A balconista ficou toda atrapalhada e foi gracejando.

- Veja lá...veja lá...o patrão ainda me despede com as suas brincadeiras (sorriso amarelo).

OUPS... Pensei!

Finalmente alguém com coragem. Paguei. Saí. E vinha ainda com os neurónios a fumegar, quando entrei na peixaria. Sentei-me num banquinho para aguardar a vez. O senhor Carlos olhou para mim e exclamou:

- Caramba. Parece muito cansada!

Sem pensar respondi com voz irritada:

- Estou mesmo, muito cansada, cansada de ouvir gente a conversar.

 

Ele ficou com ar de quem não percebeu. Eu também não esclareci. Afinal, o peixeiro não tem obrigação de me aturar.

Não ia dizer: Se não fosse o patrão da loja da fruta ter entrado, talvez ainda estivesse à espera de que a fruta amadurecesse. Já que a conversa, essa, estava já mais que podre.