Imagem retirada da internet
Capitulo IV
Distraído, apoiava a cabeça sobre uma mão enquanto redigia o relatório que teria de entregar ao inicio da tarde. O prazo era curto e as palavras não saiam céleres. Os pensamentos estavam desconexos e por várias vezes tinha corrigido as poucas palavras escritas no papel. A sua mente vagueava entre a culpa e o desejo irracional da imagem de um sofá vermelho que lhe consumia o juízo.
Era neste marasmo que se encontrava quando o telefone tocou e o fez pular da cadeira em sobressalto. Ana, a colega do lado, sorriu ao ouvir o arrastar forçado da cadeira.
Atendeu. Marta combinava com ele os preparativos da viagem. Saía a meio da tarde e regressava na terça-feira ao final do dia. As viagens ao fim-de-semana eram mais baratas e a empresa tentava minimizar os custos com as deslocações, o que era perfeitamente natural.
Marta alertou-o para a necessidade de comprar um presente para Sofia, prima de Mafalda, que fazia anos, e visto que era sexta-feira, tinha ficado combinado que passaria lá a noite. Depois de todas as habituais recomendações, acordaram almoçar juntos à uma e aproveitar a hora para conversarem e se despedirem.
No final da chamada, Ana brincou por ele se ter assustado, fazendo conjecturas aos pensamentos de Manuel. Eram bons colegas e a brincadeira acabou por o fazer sorrir libertando-o da tensão acumulada. A manhã acabou por ser produtiva e depressa se aproximou a hora do almoço.
Como sempre, Marta sentia-se culpada por abandonar o lar e viajar sozinha. Tentou tranquilizá-la. A filha Mafalda já estava habituada a estas ausências da mãe, e ele sempre a incentivou e nunca lhe havia colocado obstáculos. Muito antes de casarem já Marta viajava.
Colocou a mão sobre a dele e murmurou um obrigado e amo-te. Ele pegou na mão dela, beijou-lhe a palma da mão e respondeu que também a amava.
No final de almoço ela seguiria para casa com o motorista da empresa que a levaria ao aeroporto. Desejou-lhe boa viagem e sorte nos negócios com os clientes. Em jeito de despedida disse-lhe. “ Tenta divertir-te e visitar alguma coisa interessante no fim-de-semana. Vais passar imenso tempo sozinha”.
A tarde decorria sem imprevistos. O relatório havia sido entregue e a habitual reunião de sexta com os restantes colegas de departamento, seria o culminar dos trabalhos dessa semana e serviria, também, para delinear estratégias para a semana seguinte.
Foi no final da reunião que se cruzou novamente com Joana e quase tropeçou de tão embaraçado que ficou. Ela sabia que Marta tinha viajado, tomou a iniciativa, e convidou-o para um café a fim de conversarem um pouco. Tentou desculpar-se, mas acabou concordando, dizendo-lhe que ligava a combinar, pois Mafalda estava ao seu cuidado.
Mais tarde, sentiu-se estúpido quando se apercebeu de que não tinha o seu número. Como lhe podia ele ligar sem ter o seu contacto?!... Curiosamente, pouco tempo depois, recebeu uma mensagem desta dizendo; ”Manuel, liga para este número. Até logo”.
Curioso! Parecia ler-lhe os pensamentos por telepatia…Pensou que não conhecia mesmo as mulheres. Acabara de o surpreender uma vez mais. Mas teria de acabar o que não poderia sequer ser começado. Amava Marta e respeitava-a. Entre ele e Joana tudo não tinha passado de um momento para o qual ainda não tinha encontrado explicação.