Férias - Verão.
Dias longos, noites quentes sem hora para adormecer ou acordar, caminhadas, mergulhos, esquecer que os dias têm data, contatos, controlo ou obrigação de prestar esclarecimento, informação ou estar disponível – a isto eu chamo Verão – Férias!
É fácil descobrir que gosto de mar, arribas, rochedos, areia molhada e cheiro a maresia.
Da minha gente (pouca), do meu espaço, do meu tempo, da minha liberdade e da minha orientação sem tarefa agendada ou programa por conveniência, muito menos por imposição.
Gosto do almoço com uma salada simples e bem apresentada, na esplanada de um bar que pode ficar junto ao mar, ao rio, ou com vista sobre a serra. Da tentação consentida de uma fatia de bolo com recheio ou um gelado adornado num jantar serôdio, rematado no saborear de uma chávena de café cremoso servido com cortesia. E assim, dou o dia por bem usufruído.
Mas gostos não se discutem, nem todos pensam como eu.
Madalena gosta de acordar cedo para confecionar o farnel. De seguida, chama o seu Manel que atira com duas mãos cheias de água para acordar. Conduz remelado trinta quilómetros que os separa da praia onde começa a peripécia de estacionar a chafarrica. E depois lá vai, ainda meio enfezado, carregando: o chapéu-de-sol, o tapa vento, as cadeiras de praia, o saco com a marmita, o lanche para a manhã, para a tarde, o garrafão. Enquanto ela, segura o chapéu, o pareô e leva o saco com as demais tralhas.
Todos os dias, quase no mesmo espaço de areal, fazendo frio ou calor, lá estendem a toalha – cobertor - à espera do sol, em que tem dias joga às escondidas ou se mostra arrependido e tarda em aparecer, adiando-lhes o prazer de se sentirem como tostas com o queijo a derreter.
Assim são quinze dias consecutivos, isto porque não podem ser trinta – o patrão não dá autorização!
No fim da quinzena Lena gosta de desfilar no seu vestido branco, expondo o decote, orgulhosa da sua pele dourada, quase enegrecida, exibida como se fosse um troféu. Para ela foi mais uma vitória. Para ele cumprir o compromisso (um serviço). Aguentou mais um ano o sacrifício de esticar o pernil junto ao mar enfrentando com valentia os raios de sol ou o vento que chegou tantas vezes forte, ou não fosse ele do norte, e desabafando algumas vezes um pouco alto demais:
– Qual foi a maldade, mereço eu tal sorte?!
Mas é pela tardinha, antes de regressar à estrada, enquanto saboreiam com gosto cada um o seu gelado, que ele nota encantado como a Lena está feliz. É vê-la de gelado a derreter e a fazê-lo desaparecer com gula e com prazer, enquanto o dele se desfaz mais de deleite porque se esquece e se perde no olhar cor de mar da companheira que traz o sorriso salgado, mas rasgado como se voltasse a ser gaiata ou mesmo petiz.