Por norma costumo pedir à minha médica de família, quando vou à consulta de rotina, receita de um medicamento que tomo há imenso tempo.
Quando esta se acaba, e porque não compensa monetariamente não só pagar a taxa moderadora mas fundamentalmente deixar de trabalhar, vou à farmácia comprar nova embalagem, e sempre a levantei sem qualquer contestação de qualquer farmacêutico.
Sábado, ao reparar na caixa vazia em cima do balcão, ocorreu-me mandar mensagem ao meu marido para fazer o favor de comprar uma nova.
Sendo ele um homem prático e porque estava na padaria resolveu não perder tempo a ir à cidade e entrou na farmácia cá da aldeia.
Pediu o medicamento e a senhora doutora que o atendeu perguntou-lhe se era habitual tomar estes comprimidos, ao que ele respondeu afirmativamente, reforçando que eu os tomava há “uma data de tempo”.
A senhora retorquiu então que aquele medicamento carecia de receita médica, mas como era uma pessoa “conhecida” ia dar-lhe o medicamento.
Consumado o acto da venda, e após ter recebido o troco da transacção efectuada, solicitou o respectivo comprovativo do pagamento.
Qual não foi o seu espanto quando a informação recebida foi a de que por não poderem vender sem receita, não podiam emitir recibo.
Naturalmente a justificação não o convenceu, e perguntou se falava a sério, obtendo a mesma resposta: sem receita não posso emitir recibo!
Conta ele que ficou a olhar para a farmacêutica sem acreditar se estava a perceber bem?!…
Mas, refeito da surpresa e da bizarra informação respondeu: A senhora vendeu-me o medicamento sem receita. A prova é que tenho o medicamento em meu poder. Aceitou o meu dinheiro, aliás ainda aqui está o troco. E agora diz-me que não emite o recibo? Tem a certeza do que está a tentar dizer? É que se tem, eu posso igualmente fazer valer os meus direitos. Posso até pedir já o livro de reclamações, porque isto, é uma ilegalidade. Se era obrigatório a receita dizia que não me vendia o medicamento e eu ia embora, não lhe pedi favor nenhum!
E sem lhe dar tempo de responder, disse de seguida: Mas sabe! Hoje não estou para me aborrecer, não me apetece. Portanto vai voltar a dar-me o meu dinheiro e ficar com o medicamento, porque quem não o quer agora sou eu!
Enquanto me ia contando o episódio, fiquei a olhar espantada pela situação e com ele.
E ela, que te respondeu?
- Nada. Deu-me o dinheiro e eu virei costas!
Então fiquei sem medicamento?
- Não. Claro que não mulher! Deu-me mais trabalho e perdi mais tempo em ir à cidade mas aqui está o medicamento e o recibo. Onde já se viu uma coisa destas?
Desapareceu da cozinha a sorrir e eu fiquei a pensar: Neste País anda tudo a ficar maluco! Até o meu marido (homem pacato) já faz ameaças?! E até nas farmácias se foge a facturar? Como darão baixa dos stocks? Este Portugal anda mesmo virado do avesso!...