imagem retirada da internet
Gosto de entrar no blog da “Milú” e ler o que tem para nos contar. E foi aí, numa das minhas habituais visitas, que me lembrei da minha primeira tentativa de "paviar".
Costumava assistir às aspiradelas e sopradelas do meu pai quando fumava uns cigarros todos branquinhos e muito pequeninos. Muitas vezes fui incumbida de subir a calçada à portuguesa para os ir comprar à mercearia do “Pingas”. Sei que na época ele gostava do Português Suave ou, quando o dinheiro já não era muito, uns que se vendiam avulsos, os Kentucky, que ficavam mais baratos e que ele tinha o cuidado de contar quando eu lhos entregava. Não sei se o fazia para me controlar, se para se controlar a ele, ou mesmo para controlar o tasqueiro.
Ora, em criança, aquilo que desconhecemos, aguça-nos a curiosidade e eu não fui excepção.
Um dia, era ainda bem gaiata e, encontrando-me sozinha lá em casa, sem sono e sem nada para me entreter, resolvi sair, ainda em pijama e descalça como sempre, para a minha aventura na arte de imitar o meu pai a fumar.
O local mais resguardado lá de casa, até porque me poderia trancar, era o espaço "a que chamavam" casa de banho. Na verdade era mais o sítio onde tomávamos banho, porque de casa, apenas tinha o nome.
Como cigarros não os tinha, e coragem para os "fanar" também não, resolvi a questão fazendo um rolinho com um papel acastanhado de embrulho. Armada com a caixa dos fósforos escondida entre a roupa, ali mesmo, puxei do meu cigarrinho e vai de lhe atear o lume, enfiando de seguida a ponta em labareda na boca. De imediato senti o calor a chegar-me às pestanas e ao cabelo. Com a atrapalhação e o espaço diminuto, o lume logo se espalhou pelo laminado do pijama, obrigando-me a sair disparada porta fora, a dar palmadas e sacudidelas aqui e ali, enquanto as chamas iam percorrendo toda a roupa, apagando-se apenas quando o pêlo do felpo terminou. Ficou assim, extinto o incêndio, mas deixou-me o coração a bater como um cavalo tresloucado e as pernas a tremelicar pelo susto.
Há um ditado que diz: “Ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo”.
Eu não sei quem me protegeu, mas lá sorte tive eu de não ter ficado como um frango no espeto e ficarem só as pontas do meu pijama a cheirar a porco queimado. Como não se encontrava ninguém por perto, o assunto terminou mais rápido que uma rajada de vento, o mesmo sucedendo à vontade de repetir a experiência.
Não foi esta “tragédia” que me impediu, na juventude, de dar as minhas “passas”. Nunca me senti muito bem com o cheiro do fumo do tabaco e, por isso, nunca foi grande a tentação.
Agora com a lei que proíbe fumar, a mim sabe-me muito melhor almoçar ou jantar sem engolir o fumo das mesas do lado. No entanto, compreendo que também sabia muito bem a quem gostava de fumar o seu cigarrinho, no fim do jantar ou do café.