Ai Mundo...
Sempre que estou mais triste ou doente, o meu pai que gosta de me ver sorrir e para me animar desencanta sempre uma nova história dos seus tempos de juventude. Contava ele Sábado...
A Dona Adélia tinha acabado de afastar o gato que miava entre as suas pernas com o cheiro da panela dos rojões acabadinhos de fazer quando, de repente, o seu marido Bernardo tombou redondo na cozinha e se finou.
A notícia espalhou-se rapidamente pelos familiares, amigos e vizinhos e todos acorreram para consolar a pobre viúva.
Já o corpo do falecido se havia esfriado no caixão e ainda ela chorava e gemia olhando de esguelha para o lado:
- ”Ai Mundo-Mundo… um a um levas-mos todos.”
Continuando entre soluços, e sempre aproveitando, quando alguém a cumprimentava, para tombar a cabeça e suspirar fundo:
- ”Ai Mundo-Mundo… um a um levas-mos todos.”
Nova choradeira. E continuava com a mesma lengalenga, até que os amigos começaram a ficar desconfiados de que a viúva escondia algo grave e começaram os cochichos.
O senhor João, amigo antigo da família e também homem de coragem resolveu que havia de tirar a limpo a questão.
Aproximou-se, pediu perdão à senhora e interrogou:
- “D. Adélia, a senhora vai-me perdoar. Sei que é uma dor muito grande a perda do Bernardo, homem bom e que parecia vender saúde. Mas ninguém entendeu ainda porque diz que o mundo nos vai levar a todos?”
Ela, num gesto ainda mais tristonho, fez sinal com a cabeça, apontando com o olhar o gato que sorrateiramente metia a pata na panela sacando os rojões.
- “Foi assim que o meu gato Mundo, um a um, me deu cabo deles todos!”
E também foi assim que, de uma vez só, a D. Adélia ficou sem marido… e sem o jantar- dizia o meu papi em tom de marotice