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a alma da flor

a alma da flor

Em dia de "Air Race"

15.09.09 | DyDa/Flordeliz

 

Encontrei-o à entrada do centro comercial. Tinha o corpo coberto por um casaco amarelo. Era delgadito, frágil e aparentava ser ainda muito jovem. Não me olhou, parecia indiferente. Passei acreditando que se desviaria quando nos cruzássemos, esgueirando-se rapidamente. No entanto, deixou-se ficar por ali, alheio.

Curiosa, acabei por me aproximar abordando-o com calma para não o assustar. Não se moveu e deixou-se tocar, aconchegando-se. Carreguei-o nas mãos e atravessei as portas de correr do centro comercial.
Apreensiva, olhei em volta, optando por escolher o McDonald´s. Era Domingo e àquela hora havia pouca gente por ali. Afinal, o dia era de Red Bull Air Race, destino escolhido pela grande maioria das pessoas.
Ao olhar inquisidor da menina atirei – Um “MAC MENÚ, se faz favor!” Qualquer coisa servia desde que trouxesse uma caixa. Na hora de pagar escutei um leve “´tadinho!...”
Escolhi um lugar afastado onde prontamente despejei o almoço na bandeja e com uma das mãos perfurei a embalagem para que deixasse passar o ar. Pousei-o com mil cuidados na casinha provisória que tinha arranjado. Ficou sossegado, enfiando um olhito por uma brecha, espiando-me. Do que pedira para almoço, havia migalhas sobre a mesa que recolhi e desfiz, fazendo-as cair nos buracos da caixa. A rolha da garrafa serviria de bebedouro. E, enquanto almoçava, ia pensando no próximo passo.
Lembrei-me do meu vizinho Lino. O homem que tem na varanda araras, caturras e canários. Talvez fosse capaz de adoptar mais um…
Não gostei da ideia e abandonei-a. Condenar um pássaro à prisão sem ter cometido crime e muito menos sem ser ouvido é algo que me deixa atrapalhada.
De repente a caixa remexeu, abanou, sacudiu e uma asinha quase se esgueirava por um dos buracos maiores. Parecia ter despertado do estado de anestesia em que se encontrava. Já refeito, e aparentemente de moelas mais compostas, tornou-se nervoso por se sentir enclausurado.
Estava calor quando as portas se abriram de novo à nossa passagem. Olhei em redor e descobri que do outro lado da rua havia um pequeno monte de silvas e várias árvores pequenas mas frondosas.
Não gostava da ideia de o abandonar assim pequenino. Afligia-me a ideia de que poderia ser apanhado com facilidade por outro animal.
Abri a caixa e sorri ao ver as asas amarelas levantar voo, poisando no próximo ramo e saltitando até junto de muitos da mesma cor. E todos tão pequeninos como ele!... Saltitavam irrequietos de ramo em ramo a chilrear. E ele seguiu-os no mesmo ritmo.
Mas ficou a questão:
- Se sabia voar, porque se deixou apanhar? Porque não fugiu? Seria o ruído ao longe dos “pássaros de ferro” que o deixaram assim?
Fico sem saber!

 

Imagem retirada da internet

 

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